Memórias de um João Ninguém
O meu livro de memórias, que só poderá ser editado quando toda a minha família estiver vivendo em outro país e com nova identidade, vai ser como todos livros de memória deveriam ser, com fácio e prefácio e, caso algum familiar quiser enriquecê-lo em meu nome, posfácio. Já li um livro assim nos anos 1970, Ninguém Vive Impunemente as Delícias dos Extremos, de Lycurgo Cardozo. Não interessa se o livro era bom, só o título já merecia o Nobel de Literatura.
Para atualizar a obra, o autor distribuía páginas com adendos para quem se interessasse, o pós-fácio ou posfácio, sei lá. Conto isso porque no meu fácio vou registrar uma frase de minha lavra, que no tempo dos linotipos, era mais rápido e descomplicado o processo que começava com textos das máquinas de escrever até o primeiro exemplar do jornal sair das impressoras do que com os “sistemas” de hoje.
De tão torturantes, os sistemas poderiam perfeitamente ser usados no tempo da Inquisição se computadores tivessem. De repente, aquela gentil pessoa chamada Torquemada veio do além desde a Idade Média para inspirar os sábios que criam essas perversões.