A grande diferença
Qual é seu conceito de morte, como a encara pelo menos do ponto de vista teórico? Digo teórico porque, na prática, a teoria é outra. Este tema sempre me traz à memória uma das melhores obras já escritas sobre a aristocracia britânica no entre-guerras mundiais, Memórias de Bridshead, de Evelyn Waugh, que, apesar do prenome, é homem. Narra a história da família Marchmain e o contexto da época.
O fio condutor da história é um capitão Charles Ryder. A BBC produziu uma minissérie excepcional sobre a obra, uma das poucas adaptações que foram fiéis ao livro até onde se pode ser. E que atores! Para ter uma ideia, o patriarca dos Marchmain é vivido por Sir Laurence Olivier, soberbo no papel.
Num momento da história, o patriarca cai doente, e bem doente. Na cama, ele pede que abram as janelas – que já estavam abertas – para que ele possa respirar, e clama aos céus mais ou menos assim.
– Ó Senhor, amei belas mulheres e bebi bons vinhos, por que me tratas assim?
Ryder, que fora buscar o médico quando o velho piorou, levou-o de volta ao carro, estacionado na frente de um magnífico castelo. Antes do doutor entrar, Ryder faz uma observação.
– Ele tem muita vontade de viver, não é mesmo?
O médico coloca a manta e ajeita o sobretudo. Encara o capitão nos olhos.
– Não confunda vontade de viver com medo de morrer, meu caro.