Malandragem nipônica
Uma missão empresarial japonesa foi recebida por entidades empresariais de Porto Alegre. Como até a neve derretida do Monte Fuji sabe, os nipônicos, assim como os chineses, são extremamente cautelosos nos contatos para compra e venda. Primeiro, eles criam laços comuns e só depois de muito hai-kai eles partem para as propostas de fato. Ou seja, por enquanto, os japoneses estão aqui para trocar cartões.
No final dos anos 1980, eu acompanhei mais de perto uma missão japonesa em Porto Alegre, no tempo que não era comum como agora esse troca-troca determinado pela globalização. A comitiva era de técnicos, essencialmente, não de empresários. Pediram e foram recebidos na Federasul. Alguns poucos falavam um inglês tosco, então a comunicação não seria por aí. Nenhum deles falava português, me disseram.
Precavidos com as distâncias linguísticos além das geográficas, eles trouxeram um tradutor. Quando começou a rodada das perguntas, o tradutor vertia para o japonês e vice-versa quanto eles queriam alguma informação. Naturalmente, que os empresários gaúchos destravaram a língua e, não raro, falavam entre si sobre o que esperar deles, crentes que alguma indiscrição não seria captada pelo tradutor.
Não precisava. À certa altura, fui na parte mais alta do recinto e, como quer não quer nada, fiquei observando o comportamento deles. Me caiu os butiá do bolso. Dois deles, que ficaram bem perto dos nossos, não esperavam o tradutor verter para sua língua, começavam a anotar nossas falas antes dele.
Ou seja, pelo menos dois deles falavam português. E nós aqui achando que era tudo japonês. Malandrões…