Jornalismo de interjeição
O jornalismo praticado hoje no Brasil é, em boa parte, jornalismo de interjeição. Nas emissoras de rádio que ele é mais notável, como “que horror!”, “mas onde vamos parar?” falando ou com estridência ou como se narrando um velório. Nos telejornais, essa mania vai bem além, com apresentadores caprichando em caras e bocas para mostrar sua indignação, uma forma de as emissoras darem um recado ao telespectador tipo “Viu só? Nós pensamos como você!”
Na minha ótica, o jornalista-repórter deveria ser o último a se indignar, pelo menos na narração dos fatos como os que estamos vivenciando. O calor da indignação, no caso, é como uma imagem em zoom ou teleobjetiva de asfalto num dia de verão, em que aparecem aquelas reverberações térmicas que impedem que se veja com nitidez o que está além delas.
O narrador da história tem que ser frio. Tem que ter o tal distanciamento crítico pregado pelo dramaturgo Bertolt Brecht. O resto é jogo para torcida e um convite para contar a história como ela não é.