Interrogatório
Um ferroviário sindicalista do Vale do Caí, da extinta Viação Férrea do Rio Grande do Sul, famoso por sua devoção ao trabalhismo e aos doutores Jango, Getúlio, Brizola e Fidel Castro, foi um dos primeiros a entrar em cana quando os militares assumiram o poder em 1964. Veio gente do Dops e o botou num camburão rumo a São Leopoldo. Mal deu entrada no quartel, o ferroviário sentiu que a truta era graúda.
Os interrogadores queriam saber qual o seu papel no Grupo dos Onze, organização elucubrada por Leonel Brizola e que pretendia criar uma guerrilha guasca à moda cubana. O preso jurou que nem mesmo conhecia o ex-governador, que nunca estivera com ele e não sabia nada dessa história.
Mais ainda, não saberia nem mesmo reconhecer o doutor Brizola se o visse ao vivo. Irritado, um dos milicos sacou de uma foto 18cm X 24cm, quase um pôster, na qual ele aparecia ao lado de um gesticulante Brizola, em comício em São Leopoldo.
– Ah não conhece? E esse daí é quem, seu enganador?
– Sou eu, ora – falou, com a maior cara de pau.
O interrogador quase teve um infarto.
– E o outro é o Brizola, seu imbecil! – berrou.
Com os olhos arregalados, o preso falou como se tivesse visto uma mula sem cabeça.
– Virge Nossa Senhora! Ala pucha! Esse é o famoso Brizola? Fosse uma cobra tinha me picado!
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