Interrogatório

21 nov • A Vida como ela foiNenhum comentário em Interrogatório

 Um ferroviário sindicalista do Vale do Caí, da extinta Viação Férrea do Rio Grande do Sul, famoso por sua devoção ao trabalhismo e aos doutores Jango, Getúlio, Brizola e Fidel Castro, foi um dos primeiros a entrar em cana quando os militares assumiram o poder em 1964. Veio gente do Dops e o botou num camburão rumo a São Leopoldo. Mal deu entrada no quartel, o ferroviário sentiu que a truta era graúda.

 Os interrogadores queriam saber qual o seu papel no Grupo dos Onze, organização elucubrada por Leonel Brizola e que pretendia criar uma guerrilha guasca à moda cubana. O preso jurou que nem mesmo conhecia o ex-governador, que nunca estivera com ele e não sabia nada dessa história.

 Mais ainda, não saberia nem mesmo reconhecer o doutor Brizola se o visse ao vivo. Irritado, um dos milicos sacou de uma foto 18cm X 24cm, quase um pôster, na qual ele aparecia ao lado de um gesticulante Brizola, em comício em São Leopoldo.

 – Ah não conhece? E esse daí é quem, seu enganador?

 – Sou eu, ora – falou, com a maior cara de pau.

 O interrogador quase teve um infarto.

 – E o outro é o Brizola, seu imbecil! – berrou.

 Com os olhos arregalados, o preso falou como se tivesse visto uma mula sem cabeça.

 – Virge Nossa Senhora! Ala pucha! Esse é o famoso Brizola? Fosse uma cobra tinha me picado!

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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