Galinha
Galinha hoje é acessível para quase toda a população. Quando eu era criança, era muito diferente. A galinha era cara, e as que a gente criava em casa tinham como tarefa botar ovo. Só quando elas estavam bem velhinhas, já recebendo aposentadoria mixuruca do INSS, é que iam para a panela. Tanto que se dizia “pobre quando come galinha um dos dois está doente”.
Em compensação, galinha velha tem carne dura – mais dura do que engolir a última sessão do Supremo do STF – o que ensejou a criação da galinhada. Nada a ver com arroz com galinha. Para amolecer a carne da “penosa” junto com o arroz, levava horas. De forma tal que até a panela de ferro ficava com gosto da galinha, mesmo depois de três lavadas no capricho.
Falar em galinha, meus tempos de adolescência, em Montenegro, fui visitar um amigo bem na hora em que o pai dele – o Joceli – saiu, de pijama, sonolento, carregando uma bacia cheia de folhas de alface. Abriu a porta do pequeno galinheiro e foi jogando as folhas para dentro. Mesmo veganas, elas não mostraram o mínimo interesse pelo presente do patrão. O Joceli, então, abriu os braços e falou com elas:
– Me desculpem, mas não tenho azeite de primeira.
Imagem: Freepik
« Adoradores Missão »