Excitação pelo desastre

4 mar • Caso do Dia, NotasNenhum comentário em Excitação pelo desastre

Do ponto de vista da imprensa em geral, a ameaça do coronavírus foi recebida de braços abertos. No vazio dos meses de veraneio e com as férias de 110% de suas excelências, o buraco existencial só não tragava tudo porque jornalista também é filho de Deus. No Sul, nossas férias são em fevereiro, no Centro, em janeiro, então sem as férias seria muito jornalista para pouca notícia. Mesmo assim, era comovente ver o processo de enchimento de linguiça nas redações.

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A NOVIDADE QUE MATA

Mas eis que veio o Covid-19, que maravilha. Habemus vírus novo, aleluia! E aí o festival que se viu e ainda se vê. A função do jornal é alarmar o povo. Rádio e TV a mesma coisa, mas como o áudio os domina, é de quem gritar mais alto. Na televisão, temos os melhores atores e atrizes. Lembra o poeta português Fernando Pessoa: O poeta é um fingidor/Finge tão completamente/Que chega a fingir que é dor/A dor que deveras sente.

O DIABO MAIS FEIO

Enfim, como dizia o chefe de reportagem de ZH Adão Carrazzoni, nos anos 1970, tirem a bunda das cadeiras e vão para a rua. Infelizmente, hoje repórter fica mais tempo com a bunda na cadeira do que na rua. Notícia, hoje, se homizia no computador. Bem, lá se foram os alegres rapazes e garotas, tornar o coronoavírus mais feio que é. Um parêntese: essa é uma especialidade da minha profissão. Inventam cada vez mais cremes e microcirurgias para tornar as pessoas mais belas, mas para deixá-las mais feias somos imbatíveis, nem cirurgião plástico cego e com tremedeira. Fecha parêntese.

PAUSA PARA MEDITAÇÃO

Bom, aqui estamos nós com um bicho que contaminou, até ontem às 19h10min, 67.217 pessoas em TODO O MUNDO e matou 2.835 pessoas em todo o mundo de acordo com o mapa online do Johns Hopkins Hospital. Já li que o número de casos atingiu 90 mil, em números redondos, com 3 mil mortes, mas a ordem dos tratores não alterou o viaduto. Então o que se passa na cabeça dos brasileiros?

SELEÇÃO DAS ESPÉCIES

Primeiro, tirem-se a massa que nem sabe o que é ou ouviu falar vagamente; depois, foque nos que sabem, leram, informaram-se sobre o assunto. Uma parte cada vez maior está ficando convencida que foi muito barulho por nada, mas continuam cautelosos. Vai que, é a filosofia. O que acontece enquanto seu lobo não vem ou fugiu? Como está o Brasil fora do assunto doença?

TÁ TUDO DOMINADO

Não vai bem. Nos dois últimos meses de 2019 e nos dois primeiros de 2020 alicerçou-se a convicção que a economia não só não reagiu como se previa como o crescimento, que já era baixo, tende a piorar por motivos óbvios, eles conseguem entender isso. Então há um sentimento de frustração. Para piorar, dólar alto significa pressão na inflação e no custo de alimentos e remédios, entre outros setores da economia. Ruim, né?

PENSAMENTO DO DIAS

Hoje, recebo salário para ficar devendo.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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