Eu, ator
Já fui ator de comercial de TV, vocês sabem, mas lembrei que também já fui ator de teatro. E precoce. A peça tinha o título “O crime não compensa”, coisa mais comum que sorvete de creme. Mas deem um desconto, afinal eu tinha 13 para 14 anos. No tempo do Ginásio São João Batista, de Montenegro, um colega, o Carlos Alberto de Oliveira, nos garantiu que daria um bom dinheiro, convidando a vizinhança, pais e parentes.
Ele mesmo escreveu a peça em três atos, os mais curtos da história da dramaturgia mundial. Fiquei contente que meu papel era de detetive, mas quem matava o criminoso era o Carlos Alberto. Não entendi, mas chefe é chefe. Eu só tinha que me abaixar junto ao corpo estirado no chão – acho que era o meu amigo Laio – fingir que fechava as pálpebras e dizer uma frase que certamente, pensei eu na época, entraria para a história como o to be or not to be, escrita pelo Bardo.
– Pobre homem!
Brilhante, não? Mas ninguém aplaudiu e nem me cumprimentou após o espetáculo. Muito menos pediram autógrafo, para minha desilusão. O que eu sei é que o Carlos Alberto ficou com a metade da renda dizendo que “o teatro”, a garagem da casa, era dele. Deduzida as despesas como a graxa que comprei para pintar um bigode, sobrou dinheiro para comprar uma Coca-Cola, dois quindins e um pastel vendido pelo biscateiro Balaio Bocó.