Éramos seis
Confesso que nunca fui muito de Carnaval. Gostava do ambiente, das músicas, do cheio de lança no ar, mas isso quando era bem mais novo. Depois, a festa do povo se abastardou. Não em mais marchinha, nem samba novo, e perdem-me os amantes das escolas, aquilo não é samba-enredo, é marcha-enredo. Enfim, acabou-se o que era doce e não só no tríduo momesco. C’est la vie.
Quando era repórter policial, em 1968/9, nós tínhamos que nos desdobrar entre a cobertura policial e a de Carnaval. Essa parte eu gostava durante os cinco dias. Cobri a pulação no Clube dos Artistas, que mudava de endereço e, nestes anos, foi num depósito da avenida Mauá, o Turis Clube, em Ipanema, e uma outra boate de mulherio da pesada também na Zona Sul de Porto Alegre.
Na maioria das vezes, entrávamos eu, o fotógrafo e o motorista, se fosse um cara legal. Entravam três, mas saíam seis, como no romance Éramos Seis de Madame Leandro Dupré, isso já nos estertores da madrugada. Se eu tinha grana, eu ia primeiro para o restaurante Treviso do Mercado Público me deliciar com uma reconfortante canja de galinha, enriquecida com gemas de ovo nonato. Se o vil metal estivesse escasso, direto para o mais clássico dos palcos horizontais do combate de Eros: a cama.