Em busca do funcho perdido

5 jan • A Vida como ela foiNenhum comentário em Em busca do funcho perdido

 Foi a salada de maionese ou teria sido o galeto que estava estragado? Até hoje essa dúvida faz parte do meu departamento interno de intoxicações não identificadas. Foi em um feriadão de Finados, acho, nos anos 1960, que quase morri. Na noite anterior, eu e meu primo Rui tínhamos jantado numa galeteria da rua Benjamin Constant. Varamos a cidade em uma fulgurante motoneta Vespa.

 Durante a noite, já passei a sentir os efeitos de uma revolução intestinal, convulsão que seguiu madrugada e manhã afora. Por volta das 9h da manhã, eu comecei a achar que o cemitério teria um novo ocupante justo no Dia de Finados. Naqueles tempos, como dizia Jesus, pouca coisa abria em domingos e feriados, ainda mais no Dia dos Mortos. Corremos a cidade à procura de uma farmácia aberta, sem sucesso.

 A essa altura eu suava frio, parecia ter uma bola no estômago e, pior, em seguida sobreveio uma dor de cabeça dos infernos. Congestão, pensei, e agora o que faço? O Rui não estava assim tão impressionado, mas eu, como moribundo, sabia que a coisa era séria.

 – Quem sabe tomas um Underberg sem anestesia?

 Procuramos e procuramos um boteco, até que achamos um na rua 24 de Outubro em frente do hoje Parcão. Pé-sujo com denominação de origem, o dono com os cotovelos no balcão, pastéis velhos e mofo novo. Cambaleante, entre e perguntei se ele tinha esse digestivo.

 – Tá em falta, mas tenho um outro bitter à base de funcho, a patroa é quem prepara. Serve?

 Servia qualquer coisa, poderia ser até terebintina, querosene de aviação, qualquer coisa que aliviasse a forte dor na boca do estômago. Entornei meio copo, paguei, e desabei numa cadeira. Cinco minutos, dez minutos, vinte, e não é que aquela coisa começou a fazer efeito? A dor começou a sumir, a dor de cabeça findou e, em menos de uma hora, estava pronto para outra.

 Ressuscitei. Desde aquele dia procuro e não acho o Santo Graal de todos os remédios caseiros. Nunca mais achei. A patroa do dono do bar deve ter levado a fórmula para o além.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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