Dois em um

2 mar • A Vida como ela foiNenhum comentário em Dois em um

  Já foi mais interessante ler jornal neste país. De dois anos para cá parece o Bolero de Ravel, uma peça erudita que repete a mesma estrofe musical por uma eternidade. Tem quem goste, assim como tem quem goste de pizza de estrogonofe. Fazer o quê? Eu não fiz o mundo, só vivo nele. Não tinha esse noticiário samba de uma nota só.

  Cheguei a uma conclusão: a única novidade que se lê em jornal, hoje em dia, é a página dos necrológios, quando eles a têm, caso da ZH. Aí lembrei o caso de um senhor de idade de cidade do Interior que foi no balcão de anúncios do jorna local. Perguntou qual o preço do menor anúncio fúnebre disponível, uma titica de espaço. Manda, disse o do balcão.

    – Morreu Sara.

    – Pode botar mais, ainda tem espaço.

  O homem botou o sobrenome da falecida.

    – Ainda há espaço – falou o plantonista do comercial.

    – Bota depois do nome “enterro 17h Cemitério Municipal”.

    – Bem, ainda há um pequeno espaço que o senhor pode preencher.

    – Vendo Opala 1978 bom estado.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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