Diário de Uma vida Nova
Domingo, 20h
A canja
Comunico a todos os meus amigos e leitores, os que ficaram e os que estão longe, nas quebradas do mundaréu, que minha recuperação para a retirada de um tumor no reto encontra-se em estado adiantado de composição. Os detalhes de uma recuperação para uma cirurgia altamente invasiva têm alguns espinhos, como vocês devem imaginar.
Sonda
Já me livrei da sonda na uretra porque, acredito, não acharam petróleo no meu pré-sal.
Sede
E continuo no soro, sem alimentos sólidos e água. A pior parte foi ficar dois dias e meio sem ingerir nenhum líquido. Eu tinha pesadelos com uma garrafa de refrigerante zero, suando de tão gelada. Cada vez que eu queria pegá-la, escapava de mim dando risada.
Detalhes
Agora, vamos ao detalhe da canja cuja foto vocês estão vendo. Que é o máximo que me permitem até hoje ou terça. Como em todos os hospitais do mundo, a canja servida não é aquela que a mamãe faz ou que você toma nas boas casas do ramo. Para começar, não tem carne – nem desfiada. Nem barata ou arroz.
Foto: João Mattos
Galinha
A primeira canja que eu vi de hospital – e não é de agora – se assemelhava a essa. Eu jurava que tinha sido feita a partir de uma galinha albina. Provavelmente, já no soro. Mas, acrescida de uma pitada de sal, pareceu-me o manjar dos deuses. Ao primeiro gole de água bem gelada, que botei goela abaixo, quase desmaiei de emoção.
É incrível como a gente valoriza as pequenas coisas quando elas nos faltam durante um tempo.