Deus dá, e Deus tira

20 fev • A Vida como ela foi, FabulinhasNenhum comentário em Deus dá, e Deus tira

  Um leão macho alfa estava muito preocupado. Para manter seu harém, precisava enfrentar os desafiantes e ter dentes. Ainda dava para enganar, mas já tinha perdido parte da mobília anterior e um dos caninos estava mais mole que conversa de vigário geral, consequência de briga recente.

  Estava o felino imerso nessa desolação quando, em uma distância prudente, um macaco sensitivo percebeu sua aflição, de resto conhecido pela bicharada que sabia do seu problema dentário. Estava na situação inversa, ele queria expropriar o harém das macacas de um alfa, mas o cara era muito forte e muito mau. Ele precisava de um aliado.

  – Vossa Majestade seu Leão, com todo o respeito, eu vim aqui para oferecer meus préstimos.

  O bichano olhou o macacão de alto a baixo.

  – E quais seriam?

  – Eu sou um macaco-dentista. Mais, sou especializado em implantes.

  – Mesmo? Estou impressionado. Mas, como vou te pagar??

  – Por um servicinho banal, fácil. Explico.

  Durante os minutos seguintes, o macaco deu a rotina do seu rival, inclusive a hora em que ele dava mole no chão da floresta, para que o Rei da Selva conseguisse tocaiá-lo e matá-lo. Isso feito, ele faria os implantes. Simples assim.

  O leão topou. Poucos dias depois, achou o sultão primata de jeito e com o canino que lhe restava o despachou para o Céu dos Primatas. E cobrou o procedimento do dentista da selva. Deitou recostado numa árvore caída e abriu o bocão.

  – Conserta. E abre teu olho que, se não fizeres certo, eu pelo tua chiba.

  O macaco então pegou um punhado de ervas soníferas poderosas e enfiou o molho na boca de Sua Majestade e se afastou um pouco. Nem cinco minutos depois, o leão adormeceu, e o símio se mandou para uma longa batalha sexual com o agora seu harém.

  Dez minutos depois, o leão estava morto. Era alérgico à anestesia, e o macaco sensitivo tinha percebido. Mas todo araruta tem seu dia de mingau. Insatisfeitas com o novo patrão, as macacas fugiram depois da noite de núpcias, deixando o maridão acabrunhado e chorando na jângal.

  Moral da história: A sorte nunca dá, ela apenas empresta.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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