Deu praia em Canoas
Encosto a flamante Vespa, que peguei emprestada do meu primo, no meio-fio em frente à uma mansão na rua Dr. Timóteo. Uma garota dos seus 19-20 anos está encostada no portão girando as chaves da casa, supostamente. Tinha recolhido o jogo do bicho de pontos do Mato Sampaio, hoje Vila Bom Jesus, porque meu primo não podia. Dinheiro no bolso, no esplendor dos meus 20 e poucos anos, início da noite de um sábado de um quente janeiro.
Saquei a criatura de cara. Empregada fingindo ser da família, que, obviamente, deveria estar na praia porque a garagem estava vazia. As chaves completavam a armação. Não era bem uma beldade, mas era o que a casa oferecia. Tem horas que predador não pode ser exigente. Boleei a perna e comecei aquele papinho furado que se faz quando se começa a cantada, nome, flor preferida, Capital ou Interior, se estuda etc.
– Estou tirando Medicina – falou ela, de forma que deveria ser esnobe, mas só reforçou a mentira.
– Maravilha! – menti eu também e sem perguntar por mais detalhes para não constranger a caça, que começava a entrar no clima. Pé-de-borracha naquele tempo fazia milagres, mesmo os com duas rodas. E fui levando o lero para chegar ao dá ou desce.
– E tu, não veraneias, não vais para a praia?
– Claro que sim! – disse ela.
Não deveria ter perguntado, mas escapou.
– Em qual praia?
– Em Canoas
Aí já era demais.
– Como assim, Canoas? Não tem mar em Canoas!
E a petulância:
– Como que não? Claro que tem praia em Capão das Canoas!
Não consegui frear a risada, e, com ela, sepultei o combate de Eros que parecia certo. Eu e minha boca grande.
Foto: Freepick