De pastor a segurança
Tenho um colega aqui no jornal que sempre se veste de preto, terno e gravata com camisa branca, no inverno ou no verão. No frio, acrescenta um pesado capote. Preto.
Há anos, ao lado do prédio do jornal, na avenida João Pessoa, havia um bingo. No outro lado, ficava uma igreja evangélica de pequeno porte, junto a uma lancheria (que o raio que do corretor insiste em grafar “lanchonete”). Certa tarde, o meu amigo avisou que ia lanchar. Voltou meia hora depois, amuado. O que houve?
– As pessoas deveriam ter mais respeito para com seu semelhante. Quando esperava o sinal abrir, chegou uma senhora idosa e me perguntou se eu era segurança do bingo.
– Acontece, né? Isso te chateou tanto assim?
O homem de preto suspirou.
– Não é bem o que se quer ouvir. Mas o pior aconteceu do outro lado. Na volta, esperei o sinal abrir, ao lado da igreja-do-evangelho-não-sei-do-
– E perguntou se eras segurança da igreja, foi isso?
– Pior. Perguntou se eu era o pastor da igreja. Aí já é demais!
Bom, o preto tem desses perigos. De outra feita, voltou da rua mostrando de novo aquele ar sofrido. O que aconteceu?
– Puxa vida, isso só acontece comigo!
– Qual foi a comparação desta vez? Agente funerário?
– Pior. Vinha uma senhora com uma criança pequena e, ao me ver, ela gritou alto como as trombetas de Jericó: Lá vem o pinguim!
Então sugeri que ele mudasse o visual, mantendo o terno preto e o casacão mais a camisa branca, mas, em vez de gravata preta, usasse uma amarela.
– Por que amarela?
– Pelo menos serias confundido com um pinguim-imperador, aqueles com o peito amarelo. E com direito a aparecer nos documentários do Animal Planet. Que tal?