Crise de identidade
Tenho um colega aqui no jornal que sempre se veste de preto, terno e gravata com camisa branca, no inverno ou no verão. No frio, acrescenta um pesado capote. Preto.
Há anos, ao lado do prédio do jornal, na avenida João Pessoa, havia um bingo. No outro lado, ficava uma igreja evangélica de pequeno porte, junto a uma lanchonete. Certa tarde, o meu amigo avisou que ia lanchar. Voltou meia hora depois, amuado. O que houve?, perguntei.
– As pessoas deveriam ter mais respeito para com seu semelhante. Quando esperava o sinal abrir, chegou uma senhora idosa e me perguntou se eu era segurança do bingo.
– Acontece, né? Isso te chateou tanto assim?
O homem de preto suspirou.
– Não é bem o que se quer ouvir. Mas o pior aconteceu do outro lado. Na volta, esperei o sinal abrir, ao lado da igreja-do-evangelho-não-sei-
– Perguntou se eu era o pastor da igreja. Aí já é demais!
Não foi o pior. Dias depois, ao chegar na entrada do prédio do jornal uma criança pequena apontou para ele e largou um berro:
– Olha mãe, um pinguim!
Mais uma das muitas belas e divertidas histórias Albrechtianas – sempre bem contadas