Cretinices geniais (1 de 2)
Naqueles tempos, como se lê na Bíblia, naqueles tempos dos anos 1960 íamos ao cinema ver filme cabeça sem pé nem cabeça no Cine Vogue, pouco antes da esquina com a Garibaldi. Era um cinema de bolso, como se chamava, pequeno e aconchegante. Filmes da nouvelle vague francesa, do Goddard e dos italianos como Antonioni passavam lá. Natural, não era muita gente que gostava de filme cabeça sem cabeça.
Mas a hipocrisia reinava. Sem entender bosta nenhuma, até porque só o diretor entendia, e às vezes nem ele, dizíamos na saída que o filme era uma merda, mas que o diretor era genial. Genial era mais empregado que a nível de dos anos 90.
Sentava-se na mesa do bar e, em segundos, alguém dizia “genial!”; folheava-se uma publicação hermética, de preferência, e lá vinha “genial!”, ouvia qualquer um de esquerda criticar o capitalismo e se dizia genial!. Era a palavra da moda, tudo era genial.
Já o que hoje chamamos de “estar pra baixo” era definido como “estou em crise”. Ou na fossa, mesmo que estivesse alegre. Tinha eu uma amiga perpetuamente sorumbática e meditabunda. Um dia a abordei no Centro Acadêmico e perguntei como ela estava.
– Muito mal! Hoje estou bem.