Conto do otário

20 jun • A Vida como ela foiNenhum comentário em Conto do otário

A descoberta de uma quadrilha que ganhou rios de dinheiro aplicando o conto do bilhete premiado traz novamente à baila um antigo conceito: em terra que tem muito vigarista, também é grande o número de otários. Na realidade, acho que é isso mas não é bem isso. Em parte dos casos, a vítima queria tirar vantagem do pobre coitado que não sabia como receber o dinheiro do prêmio, mesmo achando que fez o bem.

Em décadas passadas, o Centro Histórico pululava de vigaristinhas desse tipo e de golpes semelhantes. O mais famoso era acertar embaixo de qual de três dedais estava o feijão. Um dia, vi de perto como eles atuam. Confesso que os caras são rápidos pra caramba. Então perguntei a um oficial da BM por que eles não prendiam os homens.

– Para fazer isso, eu teria que prender a vítima também. Jogo de dados é contravenção.

Pois é disto que estávamos falando. Mas o que sempre me impressionou foi o fato de como pode uma pessoa deixar-se levar pela conversinha dos vigários gerais quando os jornais estavam cheios de relatos de casos assim. Tem que ser muito desligado do mundo para não captar cheiro de malandro no ar. Se bem que, hoje, o povo compra artigos de terceira e última qualidade sabendo que é friagem, falsificação grosseira.

Também temos falsas bolsas Vuitton e produtos Cartier mais frios que rabo de pinguim mostrados por gente fina. De duas uma: compram mesmo sabendo que é fake, ou não sabem porque nunca se deram ao trabalho de se informar como detectar falsidades.

É como dólar falso. Ninguém sabe ao certo, mas há bilhões ou centenas de bilhões de verdinhas frias circulando em todo mundo sem que o dono saiba o que realmente são. Enquanto não souberem, todo mundo paga e recebe. E vivem felizes para sempre.

Imagem: Freepik

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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