Como era revolucionário meu chope  

18 set • A Vida como ela foiNenhum comentário em Como era revolucionário meu chope  

Uma das (poucas) vantagens de atingir uma certa idade é a falta de conhecimento dos mais novos sobre um passado que eles julgam conhecer. Pior, um passado em que eles fizeram parte, mas não da forma que contam. Na segunda metade dos anos 1960, o pau comia solto nas passeatas estudantis, vocês sabem. A Filosofia da UFRGS reunia vários cursos, alguns nada a ver em princípio, como Matemática, Física, Jornalismo, Letras e Geografia.

Nos anos 1966 e 1967, participei de várias manifestações. A moda era arrostar os militares e a Brigada Militar na rua. No afã de evitar que os brigadianos esquecem as boas maneiras, grupos como a AP (Ação Popular) gritavam “Polícia também é povo!”. Ao que me lembre, nunca comoveu nenhum deles.

O centro nervoso era o Centro Acadêmico Franklin Delano Roosevelt. De lá partiam as ordens do alto comando da esquerda, trostquistas, comunistas históricos, neocomunistas (a Dissidência do Partidão) e outros. No curso de Jornalismo, vários dos meus colegas criticavam quem “deixava de estudar” e se prestava a apanhar nas ruas. Hoje, muitos deles tem escrito no peito “como resisti bravamente à ditadura”. Papo furado.

Certa vez, descobri que gente do Partidão organizou um encontro na boate Encouraçado Butikin, na avenida Independência, antro da elite burguesa de Porto Alegre. Inquiri um deles sobre por que a esquerda se reuniria logo na casa do Ruy Somer, e ouvi dele que era para resistir aos milicos nas “barricadas”.

– Só se for nas barricadas de chope – respondi.

Claro que pau pesado não era com eles. Intelectual não dá mole, resguarda-se porque são quadros dirigentes que precisam pensar a Revolução.

Ou, como certa vez escreveu o cartunista Jaguar (Sérgio Jaguaribe) no O Pasquim, tabloide alternativo: intelectual não luta, intelectual bebe.

Imagem: Freepik

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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