Com bola e tudo
Esse negócio do Inter ser confirmado na segundona. É ruim, né? Encarar voos longos mais viagens de ônibus para cidades do Norte-Nordeste é o suplício de uma saudade, saudade da série A. Mas tem coisa pior, como dizia o Steve Wonder. Esses timecos do interior dos interiores sempre me lembram dos tempos de guri em São Vendelino. Uma história que já contei aqui envolve um centroavante do melhor e único time local, de apelido Planchón, de prancha, pranchão, então imagina o pé do cara.
Certo domingo, inauguraram as redes das goleiras com um clássico, o SV contra a seleção de Santa Clara, que faz fronteira com minha terra natal. Um dos cantos do corner ficava meio metro ou mais acima do gramado, que precisava ser aplainado de vez em quando para eliminar os tacurus, aqueles morrotes (cupinzeiros) que se vê campo afora.
Mal o referee apitou o início do jogo, o Planchón tomou a bola nos pés e foi reto como a vela do círio pascal em direção à goleira. Atropelou toda a defesa adversária como se bola de boliche fosse, derrubou o goleiro, rompeu a rede novinha em folha, enveredou por um mato de maricás sem desviar e só parou na taipa centenária que separa as duas localidades, e, mesmo assim, porque estava com vontade de tomar uma cerveja, então tomou o sentido contrário pela trilha aberta por ele até o bar improvisado.
Dizem que nesse dia inventaram a expressão “entrou no gol com bola e tudo”.