Churrascarias do Centro  – A vaca do major

4 nov • A Vida como ela foiNenhum comentário em Churrascarias do Centro  – A vaca do major

Acreditem, houve tempo em que o Centro Histórico tinha várias churrascarias. Hoje, não tem mais nenhuma digna desse nome. Vá dizer isso para o visitante. Mas dá para entender. À noite, o Centro morre. Em décadas passadas, mormente até o início dos anos 1970, algumas se sobressaíam, como A Churrasquita, na Riachuelo entre Borges e Praça da Matriz; e a Quero Quero, na subida da Otávio Rocha. Mais tarde, ganhou fama a Capitão Rodrigo, no Plaza São Rafael, berço de famosas confrarias.

O dono da Quero Quero, Napoleon Kristakis, também tocava o Restaurante Napoleon, quase ao lado. Tragicamente falecido em um acidente besta, o homem era uma mina de histórias, especialmente a sua. De origem grega ou armênia, fica na dúvida, foi mordomo do armador (construtor de navios) grego Aristoteles Onassis. Para provar, mostrava com orgulho uma foto dos dois, autografada pelo patrão. Bilionário, Onassis também era conhecido por casar com belas mulheres, entre elas a viúva do presidente americano John Kennedy, a fulgurante Jacqueline. Onassis era um homem feio, com nariz de fumar na chuva. Mas se a pessoa física era feia, a jurídica irradiava beleza.

A Churrasquita também recebia as histórias. Um dos clientes era o major Pedro Olímpio, major dos Provisórios da Revolução de 1923. Estancieiro forte do Alegrete, quando vinha a Porto Alegre tinha a acompanhá-lo Arsênio Marques, um misto de amigo e segurança. Certa noite, já com muito uísque rolando, Arsênio começou a se queixar da vida.

– Major, o senhor tem uma légua de campo, um monte de boi e dinheiro, e eu aqui pobre como rato de igreja. É  muito triste a minha vida.

O major se comoveu com a triste sina do amigo.

– Arsênio, vamos fazer negócio. Eu te dou a melhor vaca do meu  plantel e tu começas a criar.

O segurança aplaudiu, mas ficou sério em seguida.

– Mas como vou criar gado se não tenho terra?

O estancieiro se pôs a  matutar.

– Vamos fazer o seguinte. Eu te compro a vaca de volta. Cinquenta tá bom?

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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