Cheiro de lança no ar
Para os mais veteranos basta falar nos carnavais de antigamente que imediatamente se nota um cheiro de lança-perfume. A melhor era a Rodouro, da Rhodia; a outra era a Colombina, quebra-galho na falta da primeira. A primeira vinha em recipiente de alumínio ou latão sei lá, pintado de dourado, a outra vinha em um tubo de vidro transparente. O cheiro desta era enjoativo. Os loucos a misturavam com bebida, coisa mais tenebrosa. Imagina, beber éter perfumado.
O pula-pula quase inocentes nos salões tinha bebida como combustível, gim tônica, Cuba Libre, uísque de última misturado com guaraná, “champanhe”, que dava azia até em copo de bicarbonato. Para alguns poucos tomava-se comprimidos de Pervitini ou Dexamil, feitos para permanecer acordado, muito usados por estudantes. Misturado com álcool fazia você virar caturrita de hospício, falando sem parar. Não dava barato, se querem saber. E nem mesmo aumentava o apetite sexual, bem pelo contrário.
Lembro uma vez que ingeri Dexamil com gim tônica. Falava pelos cotovelos com todo mundo. Seis da matina, termina o baile e eu queria mais papo. Como os vampiros já tinham se recolhido para escapar do sol, fui para o meio da Praça Ruy Barbosa em Montenegro e fiquei um tempão trovando com o busto do Getúlio Vargas.