Casa nova
Em meados dos anos 1970, o meu falecido cunhado Antônio José Pires Freire foi para Itabuna, Bahia. Biólogo da Embrapa, tinha a função de controlar pragas nos seringais do interior – sim, seringueira mesmo, não me enganei. Como havia muitos gaúchos na estatal, nos finais de semana, eles se encontravam.
Num sábado à noite, alguém mostrou um anúncio de um novo restaurante de frutos do mar no jornal local. Então lá se foi o grupo para a novidade. Em lá chegando, observaram um belo luminoso com os dizeres “frutos do mar”. Era cedo, não havia outros clientes. Atrás do balcão, um garçom dormitava. Com o barulho, ele acordou. Pediram o cardápio.
– Tem não, a casa é nova.
– Certo, mas o que vocês oferecem? Tem moqueca de camarão?
– Tem não meu rei, a casa é nova.
– Siri mole?
– Tem não, a casa é nova.
Então eles foram acumulando negativas, não tinha nada de frutos do mar. Já um pouco exasperado, Antônio José foi em cima, afinal, o que a casa oferecia para comer?
– Carne de sol com macaxeira, meu rei.
Um deles saiu e foi conferir se estava mesmo escrito “frutos do mar” no luminoso. Estava. Resolveram beber alguma coisa antes de rumar para outro restaurante. O biólogo gostava de Campari. Não tinha. A casa era nova.
– Uísque, gim tônica, vodca, tem?
– Tem não.
– Mas que diabos de casa nova é essa que não tem nem bebida. Caipirinha tem?
O sorriso tomou conta do largo rosto do garçom. Finalmente.
– A nossa cachaça vem da Usina São Francisco, é a melhor que existe…
O sorriso desapareceu.
– Se tivesse limão…
Charque com aipim e cachaça. Isso sim que é casa nova.