Campeão até o fim
A primeira imagem que tenho do Danilo Ucha, 73, ficou na minha retina nos últimos 50 anos, e assim ficará pelo resto da minha vida. Ele à frente do grupo dos santanenses vindo pela lateral do Centro Acadêmico Franklin Delano Roosevelt, indo para algum lugar da Filô, como chamávamos a Faculdade de Filosofia da Ufrgs, onde eu cursava Jornalismo. Garboso, ar destemido, passos firmes rumo a algum compromisso, ou simplesmente para jogar conversa fora, tomando cafezinho no bar, adoçado com o orgulho por fazer parte de nativos de Santana do Livramento, ases do jornalismo aqui e em outros estados. Esse era o Ucha, meu amigo desde aquela manhã. Conversamos, lembro, mas não consegui fisgar da minha memória sobre qual assunto. Fato é que, desde aquele dia, nossas vidas caminharam juntas, como a corda e a caçamba.
Passamos anos e anos tropeçando vez que outra nas mesmas redações. Ele trabalhou em quase uma dezena de jornais e rádios. Começou mais cedo do que eu na profissão. Na ZH, nossa amizade seguia, às vezes indolente, às vezes aparente. Mas, no fundo, firme e sólida como granito, amizade que não precisava ser proclamada. Ucha foi meu interino no Informe Especial na década de 1980 e, quando saí da RBS, ele assumiu a página 3. Depois veio o Jornal do Comércio até que que a morte o encontrou dormindo, na madrugada de hoje.
Danilo Ucha fazia parte da elite jornalística que começou a brilhar nos anos 1960, época de ouro do jornalismo gaúcho. E para provar essa excelência profissional, basta dizer que seu Informe Econômico no JC era disputadíssimo. Seja como colunista, como perito em vinhos, em gastronomia, em cordeiros, criação de receitas ou na nobre arte de fazer amigos para sempre, o Ucha foi campeão até o fim.
O corpo do meu velho amigo será velado, a partir das 15h, na Capela J, do Cemitério São Miguel e Almas. O sepultamento será amanhã, às 11h.
Para mais informações, acesse: http://ow.ly/WRzr302r5QX
Foto: João Mattos
Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.
Caro Fernando.
Você e o Danilo sempre tiveram pontos em comum: homens confiáveis, profissionais, com consciência da consequência do que escreviam, pois a sensibilidade de que quem ocupa espaço na sociedade faz diferença, sempre foi e é um dos tantos predicados que tem quem faz jornalismo de maneira responsável e consequente. Ainda hoje, como faço todos os dias, li tua página e a do Danilo. Grande perda, vai fazer falta.
Forte Abraço,
Antônio Sartori.