Caça ao marido
Essa foto deve ser do final dos anos 1940 – início dos anos 1950 – na frente da casa da família Peter, em Santa Terezinha, Bom Princípio. Mostra como o automóvel ou qualquer coisa com quatro rodas deslumbrava gerações. No caso, um deles faz uma pose displicente a la James Dean, uma linguagem corporal como a dizer “sorry, periferia”, mesmo não sendo proprietário do possante. Cheguei a pegar esse comportamento mais adiante, durante os anos 1950 e 1960.
Uma cena comum era alguém encostar em um carro estacionado girando a chave de casa para que os passantes pensassem que ele era o dono. Você ter um carro ou mesmo dirigir o automóvel do papai dava 50% de luz em relação a um sem-carro para conquistar uma garota. Dizia-se “pé de borracha”. Sem um, só paixão instantânea.
Quando você convidava alguma empregada doméstica para dar uma volta de carro e perguntava se ela estudava, na maioria das vezes, ela fazia um ar displicente para dizer que sim, que cursava Medicina. Claro que não, mas fingia-se acreditar.
As gurias da classe média procuravam preferencialmente quem cursasse Medicina. Prestígio, dinheiro, segurança. Em segundo lugar na preferência das garotas para caçar um marido, vinha Odontologia. Depois, vinham outras profissões.
Não lembro de nenhuma garota cujos olhos brilhassem quando eu dizia que seria jornalista.