Bondes e lambretas

28 maio • A Vida como ela foiNenhum comentário em Bondes e lambretas

Hoje publicamos um saboroso relato do leitor e amigo Davi Castiel Menda. Saudades dos três.

Davi Castiel Menda

Entre 1946/48 aconteceu um grande desastre de bonde na esquina da Av. Borges de Medeiros com Rua Demétrio Ribeiro (Porto Alegre). O trajeto do bonde era descer pela Borges e, ao chegar na esquina do Cinema Capitólio, deveria fazer uma curva de 90 graus à esquerda. Parece que o motorneiro perdeu os freios e foi algo terrível.

Eu tinha 4 anos e toda aquela região ficou completamente congestionada de pessoas e carros ansiosos por notícias. Desde aquele dia fiquei com a sensação de que morreria num desastre de bonde, o que não me impediu de tomar a famosa linha histórica 28 quando estive em Lisboa.

Em 1956, quase se cumpre a tragédia. Fui tentar apanhar um bonde Azenha em movimento, pela porta da frente, minhas pernas não conseguiram acompanhar a velocidade do dito cujo e me estatelei no chão, escapando de boa (o preço foi a quebra de dois dentes, muito pouco pelo que poderia ter acontecido).

Em 1960, (como podem ver, sou bom de datas…) estava no Hipódromo do Cristal e pretendia ir até à Praia da Alegria ao final dos páreos. Naquela época, a dificuldade deste intento poderia ser comparada como ir à Lua!

Milagrosamente, descobri que um amigo meu, o Chang, evidentemente de família chinesa, iria para lá na sua lambreta. Consegui a carona e, já noitinha, saímos para esta verdadeira empreitada. Bem, o Chang era gordinho e em consequência tinha o pé pesado. Sabe lá o que é estar na garupa de uma lambreta, à noite, não enxergando patavina, a mais de 100km por hora? O Chang sentiu isso e me perguntou se eu não estava com medo. Na hora, respondi a ele: “Não te preocupa que eu vou morrer num desastre de bonde.  Pode correr a vontade!”.

Foi como se tivesse ligado o botãozinho do riso. O Chang começou a rir e não parou até chegarmos na Praia da Alegria. Eu não imaginava que a “piada” era tão boa, até que ele mandasse eu descer e olhar na frente da lambreta. Em letras pretas, garrafais, estava pintada a seguinte palavra: Bonde.

Escapei de mais esta!

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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