Bondes e lambretas
Hoje publicamos um saboroso relato do leitor e amigo Davi Castiel Menda. Saudades dos três.
Davi Castiel Menda
Entre 1946/48 aconteceu um grande desastre de bonde na esquina da Av. Borges de Medeiros com Rua Demétrio Ribeiro (Porto Alegre). O trajeto do bonde era descer pela Borges e, ao chegar na esquina do Cinema Capitólio, deveria fazer uma curva de 90 graus à esquerda. Parece que o motorneiro perdeu os freios e foi algo terrível.
Eu tinha 4 anos e toda aquela região ficou completamente congestionada de pessoas e carros ansiosos por notícias. Desde aquele dia fiquei com a sensação de que morreria num desastre de bonde, o que não me impediu de tomar a famosa linha histórica 28 quando estive em Lisboa.
Em 1956, quase se cumpre a tragédia. Fui tentar apanhar um bonde Azenha em movimento, pela porta da frente, minhas pernas não conseguiram acompanhar a velocidade do dito cujo e me estatelei no chão, escapando de boa (o preço foi a quebra de dois dentes, muito pouco pelo que poderia ter acontecido).
Em 1960, (como podem ver, sou bom de datas…) estava no Hipódromo do Cristal e pretendia ir até à Praia da Alegria ao final dos páreos. Naquela época, a dificuldade deste intento poderia ser comparada como ir à Lua!
Milagrosamente, descobri que um amigo meu, o Chang, evidentemente de família chinesa, iria para lá na sua lambreta. Consegui a carona e, já noitinha, saímos para esta verdadeira empreitada. Bem, o Chang era gordinho e em consequência tinha o pé pesado. Sabe lá o que é estar na garupa de uma lambreta, à noite, não enxergando patavina, a mais de 100km por hora? O Chang sentiu isso e me perguntou se eu não estava com medo. Na hora, respondi a ele: “Não te preocupa que eu vou morrer num desastre de bonde. Pode correr a vontade!”.
Foi como se tivesse ligado o botãozinho do riso. O Chang começou a rir e não parou até chegarmos na Praia da Alegria. Eu não imaginava que a “piada” era tão boa, até que ele mandasse eu descer e olhar na frente da lambreta. Em letras pretas, garrafais, estava pintada a seguinte palavra: Bonde.
Escapei de mais esta!