As vidas que nunca tive

8 fev • A Vida como ela foi2 comentários em As vidas que nunca tive

Não existe quem não tenha parado para pensar um tiquinho de tempo que tenha reconstruído mentalmente a sua vida e perguntado a si mesmo “e se?”. Se em vez de sair do interior para morar e estudar na Capital, se em vez de Engenharia tivesse se formado em Florais de Bach, o que teria sido sua vida pessoal e financeira? E se tivesse retardado por alguns segundos a travessia da rua bem a tempo de topar com aquela que seria sua futura mulher no lado oposto da calçada, casaria com outra?

Confesso que já pensei em dezenas de encontros fortuitos que balizaram toda minha vida futura. Se em vez de continuar voando no Aeroclube de Montenegro nos anos 1960, tivesse aceitado o convite de um amigo que voava táxi-aéreo no Mato Grosso, declinando do jornalismo? Ou se tivesse ido à terra do meu pai, a Alemanha, para lá estudar e morar com uma irmã dele? Qual seria minha profissão hoje?

Entre milhares ou milhões de desdobramentos dois acasos foram definitivos em minha vida. Certo sábado de 1969 eu e, aquele que viria ser meu futuro cunhado, combinamos de jantar na Churrascaria Negrinho do Pastoreio, no bairro Ipanema de Porto Alegre. Ele com a namorada e eu com uma amiga que me seria apresentada, filha de desembargador. Aconteceu da tal amiga ficar resfriada e então meu amigo convidou a irmã para fechar o quarteto. Imagina se a filha do desembargador tivesse ido ao tal jantar, qual seria o meu futuro?

O outro acaso foi quando estudava jornalismo na UFRGS. Saí da aula antes do término e encontrei o amigo Ademar Vargas de Freitas, copidesque do jornal Zero Hora, alertando-me que havia uma vaga na reportagem policial de ZH, com uma jornada de trabalho por toda a madrugada até as 7h da manhã. E se eu não tivesse saído da aula mais cedo? Continuaria trabalhando como assistente da gerência do Banco da Província, a um passo de ser gerente de alguma filial?

Fato é que nunca saberemos os mistérios futuros se o “e se?” tivesse acontecido.

Imagem: Freepik 

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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2 Responses to As vidas que nunca tive

  1. Caro Fernando Albrecht
    Tomei conhecimento do seu brilhante blog através do meu ex-chefe na ex-Folha da Tarde (SP), Carlos Brickmann. Muito boas suas ideias. Sempre pertinentes e bem redigidos textos, muita criatividade, uma raridade no cipoal da internet.
    Mantenha o bom trabalho, cara.
    E nesta coluna de hoje você me fez meditar também nos muitos “e se” da minha vida.
    Acho que todos que tiveram o privilégio de ler o seu texto também passaram o dia pensando nisso também.
    Parabéns
    Marcon Beraldo

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