As mil e uma inutilidades

19 jun • A Vida como ela foiNenhum comentário em As mil e uma inutilidades

Bem, nem tanto ao céu nem tanto à terra. O Bombril, cujo slogan prometia que ele tinha mil e uma utilidades, realmente era e ainda é capaz de algumas proezas além do dever. Umas 30, digamos. Esses publicitários, sempre exagerando. Mesmo seco, ele pode fazer parte de um kit de sobrevivência quando você estiver sem pai nem mãe no fundo de um país qualquer. Serve para fazer fogo. Mas precisa de duas pilhas de qualquer tamanho, mesmo com a carga no final. E de preferência, já usado. Cansei de fazer foguinho fingindo que fazia um safári, e sem nenhum carregador de moringa para ajudar.

Para quem não conhece, o truque é simples. Pegue uns fios do Bombril e espiche-os como esperança de pobre. Junte folhas e outro material combustível, encoste cada uma das extremidades nos dois polos da pilha et voilà! Fiat lux, que significa faça-se a luz e também é marca de fósforos. Ou era.

Agora vamos à uma inutilidade, que o povaréu gostava de acreditar. Até o aparecimento das TVs digitais, sintonizar os canais com a tela estabilizada era um inferno. Os aparelhos contavam dois botões giratórios, espécie de corretor vertical e horizontal. Este último era o pior. Você sentava na cadeira e a imagem começa a correr; levantava, ia lá para acertar, acertava, mas quando voltava a sentar tudo degringolava. Um inferno. Diziam que botar um Bombril na ponta da antena interna resolvia. Alguns enfiavam a palha de aço na antena externa, geralmente em cima do telhado.

Não funcionava. Ou melhor, funcionava, mas por outros motivos. Para começar, todos os televisores antigos foram fabricados pelo engenheiro Murphy. Ou seja, a imagem rolava sempre quando você voltava para a poltrona. Enfiando o Bombril na antena, parecia que ele operava o milagre da estabilização da imagem.

 No fundo, era porque você finalmente botava a antena na posição certa. O Bombril era um falso brilhante em assuntos televisivos.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

FacebookTwitter

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

« »