As letras desmaiadas
Ouço, todo santo dia, essa arenga que o jornal impresso vai terminar e que o jornal virtual só tem vantagens em relação ao impresso. Posso concordar com muita coisa, mas alto lá! Para começar, quando eu pego o jornal tradicional não vejo na capa um anúncio escandaloso que só sai se eu clicar no X – isso se achar. Anúncio encartado em jornal eu jogo fora ou guardo para embrulhar alguma ferramenta ou algo parecido. Quer dizer, tem utilidade.
Também não preciso aguentar irritantes vídeos ou anúncios no intervalo de um parágrafo e outro, nem mesmo poluir os meus já cansados olhos com propagandas laterais. E como letra impressa tem borda definida, ao contrário das letras na tela, minha vista não vai e vem centenas de vezes por segundo para achar o fim da borda – que não existe, por isso ler em tela cansa tanto, ler textos com fonte desmaiada.
Também, não posso botar meu tablete ou computador no chão para secar algum líquido derramado. Indo mais longe, também não posso usá-lo como desumidificador, nem pra limpar cocô de cachorro na sola do sapato. Se bem que bosta de cachorro no calçado é como achar que texto deletado desaparece para sempre, sempre fica rastro.
Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.
