As bolachas da cachaça

29 mar • A Vida como ela foiNenhum comentário em As bolachas da cachaça

Outra história que teve cenário o Bar e Rotisserie Pelotense, na rua Riachuelo entre Borges de Medeiros e General Câmara. Com suas mesas de mármore e ventiladores de teto, abrigava alguns personagens conhecidos da Capital, entre eles um professor. Ele entrava rápido, sentava atrás de uma coluna e pedia dois copinhos de cachaça de uma vez só.

No primeiro, o garçom Lope Rega servia uma marca comum, dessas bem baratas; o segundo era preenchido por uma marca premium bem carinha, uma das poucas que existiam à época. A contagem era feita por bolachas de chope. Para não fazer confusão na hora de pagar a dolorosa, ele pedia duas bolachas, uma para cada marca, na proporção de duas por uma.

Em dias em que o professor estava mais sedento a pilha já era como edifício baixo, mas que já precisava de elevador. Dono de elevada cultura, passava a discorrer sobre fatos históricos que dominava muito bem. Fumante, tinha o hábito de segurar o cigarro entre os dedos com o braço voltado para trás, que em seguida ele deixava cair para pegar outro do maço. Era uma cena curiosa, um freguês com duas pilhas de bolachas de chope na mesa e no chão um bom número de cigarros parcialmente fumados.

Uma única vez o professor saiu do sério. Foi quando inadvertidamente outro garçom misturou as duas pilhas, Foi uma declaração de guerra. O infeliz teve que ouvir uma preleção de como era importante para ele servir cachaça com duas pilhas de bolachas. Quem ouviu não entendeu nada.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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