As batidas salvadoras
Você quer lanchar e pede uma torrada, uma fatia de pizza, xis ou um bauru, que está meio em extinção. O Xis no capricho o substitui. Até meados dos anos 1980, não tínhamos esse leque de produtos. Assim como na escola aprendemos que o Brasil colonial teve ciclos, o ciclo do cacau, da borracha, da cana de açúcar, do pau brasil, não por essa ordem.
Da mesma forma, a Porto Alegre teve diversos ciclos gastronômicos. Os mais antigos foram o ciclo do croquete e do pastel, que vivem até hoje, assim como o campeão cachorro-quente, o eterno. Mas nos anos 1960 até meados da década seguinte, a capital gaúcha teve o ciclo do sanduíche de pernil e, na sua forma mais sofisticada, o sanduíche aberto com elementos clássicos: molho de carne, pão preto, picles e tomate. Depois inventaram cenoura em conserva, coisa que até hoje não entendi. Ela só pode ter entrado no sanduba aberto via pistolão.
O grande complemento dessa época era a batida, ou vitamina, como era chamada em outros estados. Todas levavam leite e uma fruta. Reinavam absolutas as batidas de banana e de abacate. Com açúcar, faziam um contraponto legal com o salgado do sanduíche de pernil – o mais famoso era do Matheus, na Rua da Praia. Segredo: pernil fatiado na hora. Se não for, resseca.
O ritual era o mesmo. O atendente colocava leite, banana ou abacate no copo do liquidificador, depois acrescentava açúcar e punha a engenhoca rebolar. A consistência era pastosa, mas não demais. Então ele derramava a mistura em um copo grande de 300 ml, esses de chope. Dificilmente cabia tudo no copo, então o do balcão esperava você dar uns goles e colocava o restante. O famoso “chorinho” versão abstêmia.
Valia uma refeição. Barata. Devo minha vida às batidas daqueles anos.
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