Arte da mediação
Toda campanha fala sempre do Ferreira Neto, um ás na arte da mediação da Rede Globo. Vi-o em ação numa eleição nos anos 1980 no Rio de Janeiro. O cara era muito bom. Nos dedos tinha sempre um charuto apagado, nos tempos politicamente incorretos – que infelizmente não voltam mais. Ele sentava numa cadeira com rodinhas, com os candidatos dispostos em meia lua. Então ele atirava um osso para a cachorrada.
Enquanto começava as primeiras escaramuças, Ferreira Neto empurrava a cadeira com rodinhas discretamente para trás, até ficar no distanciamento crítico brechtiano. Ele só fazia o movimento inverso na hora do brake comercial ou quando, como em uma luta de box, o juiz sente que vai rolar sangue demais e se coloca entre os lutadores. E assim ia. Debates eram ganhos por quem tivesse as melhores ideias e presença de espírito para rebater as dos outros e uma couraça para se defender das estocadas.