Anos de chumbo
Mais uma vez valho-me de uma memória do meu amigo Paulo Motta, que escreveu um causo envolvendo sua prima Zelaine. Não deve ser a mesma Zelaine que conheci quando cursava o 4º ano primário, no Grupo Escolar Delfina Dias Ferraz, em Montenegro. Era uma negra magra, alta, sexualmente precoce, simpática, dava curva nas professoras a todo momento. Vivia mascando chicletes, que não eram tão baratos assim naqueles tempos.
Um dia a professora – dona Olenca – chamou a atenção da Zelaine porque ela estava transgredindo o regulamento ao mascar chicletes Adams, aquele da caixa amarela, hortelã. Ela negou.
– Abre a boca! – ordenou a mestra.
Ela abriu. Não teve jeito. Uma bolota escura aparecia na altura da segunda mobília. Mas como falei, a Zelaine botava suspensório em cobra correndo.
– Não é chiclete, fessora, é chumbação!
Chumbação era como eram chamadas as restaurações dentárias, quando se usava amálgama à base do metal mercúrio. O aspecto era mesmo de um chiclete mascado.
Lembrança vai, lembrança vem, lembrei de outro colega. Dele dizíamos que tinha tantas cáries que dava eco quando falava. Dizíamos que era a Voz do Vale.
Mas essa já é outra história.