Águas passadas
Nunca fui muito fã de carnaval. Mas até dava meus pulinhos antes que a maionese desandasse. Acredito que 1968, pouco mais pouco menos, as coisas deixaram os trilhos da ingenuidade e do Mandrake do tempo para ingressar em tempos mãos velozes, menos cordiais e mais assustadores. No final da década de 1950 e até medas dos anos 1960, reinavam absolutos os bailes dos clubes sociais. Quem não fosse sócio dos melhores, não entrava nem com assinatura do Presidente da República.
Vencido esse obstáculo, “comprava-se” uma mesa para uma ou mais noites, geralmente grupos de quatro amigos. Bebia-se um uísque horroroso, geralmente Mansion House nacional (só milionário para comprar estrangeiro) que chamávamos de Mãos ao Alto. Champanhe só Peterlongo. As outras marcas davam ressaca até nas taças de cristal. Se fosse demi sec, dava azia até em copo de bicarbonato. Valia beber Cuba Libre, coca com rum. Mulheres gostavam, era docinho. Cerveja era para pobre.
Uma observação interessante é que a bebida, fosse qual ela fosse, nunca vinha pura. Champanhe (espumante era coisa de pobre, sidra, pingo de cristal essas coisas criadas pelo diabo) sempre era acompanhada de confete, mesma coisa com uísque, cuba ou cerveja. A única bebida que não tinha confete era um martelinho de cachaça. Mas isso só na zona. Na zona valia tudo.
Como acompanhamento olfativo, cheiro de lança no ar.