Síndrome de Estocolmo

12 jan • Caso do DiaNenhum comentário em Síndrome de Estocolmo

 Fui seduzido quando adolescente. Pronto. Sem meias palavras. Uma empregada doméstica o fez quando eu mal tinha 15 anos. Visto-me simbolicamente de preto para narrar essa história e a contarei com detalhes quando for premiado no Globo de Latão. Vocês não têm ideia do que passei naqueles verdes anos. Pior. Não foi só uma vez, foram várias. Na calada da noite, a perversa entrava sorrateiramente no meu quarto e fazia coisas inimagináveis, pelo menos assim pareciam na época.

 Quando confessei, o padre me ameaçou com o fogo do inferno. Da segunda vez que ela me mostrou os pecados da carne, o padre queria saber quem tinha feito tamanha ignomínia. Não entreguei o nome. Provavelmente, queria saber para exorcizar o demônio que havia nela. Por causa desses pecados mortais repetidos, tive certeza que assaria no inferno e Belzebu me trincharia com um kit de churrasco da Tramontina.

 Que pavor. Quantas noites e madrugadas miseráveis passei por causa dos pecados da carne! Eu era um ingênuo, e quando ela falava “vai ser tão bom…” pensava que era alguma sobremesa especial que faria no almoço de domingo. E eu ia contar para quem? Para a Polícia? Seria preso. Afinal era a palavra dela contra a de um pirralho. Meus pais? Jamais!

 A bem da verdade e para aumentar meu tormento, preciso dizer que gostei de ser seduzido. Sonho com os peitos dela até hoje. Tenho vergonha de confessar. Ainda mais que, depois desse trauma todo, não passei a odiar as mulheres.

 Bem pelo contrário.

 Imagem: Freepik

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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