A vitória dos dedos

19 fev • A Vida como ela foiNenhum comentário em A vitória dos dedos

máquina de escrever antiga com detalhes de dedos digitando

 No tempo em que se usava máquina de escrever, condição sine qua non para se obter qualquer emprego mais qualificado era saber “bater à máquina”, e precisava ser rápido e escrever com um mínimo de erros. E tinha ainda que alinhar o texto na margem direita, não essa moleza de hoje em que o computador faz tudo automaticamente. Havia escolas de datilografia, nas quais se ensinava a usar os dez dedos. Eu, humilde marquês, como dizia o Ho Chi Mim gaudério, só usava dois deles e os polegares para a barra dos espaços.

 Chama-se essa técnica de “dedografia”, usando os indicadores, e posso garantir que eu era bem rápido. Como para escrever em lauda de jornal, as correções podiam ser feitas depois, com Bic, ninguém dava muita bola porque havia uma função na redação chamada copidesque. A turma que reescrevia teu texto para depois rumar para a área técnica. CDF mesmo só fora de jornal, como no banco em que comecei a trabalhar com 17 para 18 anos.

 – Não vais longe na carreira sendo dedógrafo – implicava meu chefe imediato. Tens que usar os dez dedos!

 Olha eu tentei, mas não teve jeito. Não conseguia me convencer que, para ser bancário, precisava usar os dez dedos para datilografar. Mas, na época, a doutrina era essa. E até hoje uso o mesmo sistema no computador. Confesso que me dá uma certa inveja ver a gurizada manejar o miniteclado do smartphone em alta velocidade.

dedos digitando em smartphone

Mas eles usam só dois dedos, os polegares! Essa é minha vingança. A tecnologia avançou, mas a humanidade ainda precisa dos dedos para escrever, já se deram conta disso? O que eu queria agora era comprar uma máquina do tempo, voltar nos anos até encontrar meu antigo chefinho do Banco da Província, espetar o indicador na cara dele dizendo que o futuro provou que o mundo seria dos dedógrafos.

 Isso feito, daria um pulinho da casa da guria que eu estava de olho naqueles tempos e perguntaria a ela se não queria brincar de cavalinho na minha máquina do tempo. Que só tinha um assento.

 Imagens: Freepik e Carla Santos

 

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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