A visita

14 jun • A Vida como ela foiNenhum comentário em A visita

 – Diga logo a que veio. Não me trate como se eu fosse um lorde inglês. Como você vê, sou de carne e osso. Mais carne que osso, como acusa minha balança no banheiro.

 Ela titubeou.

 – Bem, para dizer a verdade, eu só queria conhecer o senhor na intimidade. Não me entenda mal. E como você…o senhor é uma figura importante da comunidade, fico meio sem jeito…

 O empresário calçadista analisou a bela moça à sua frente. Há dias, ela vinha insistindo em conhecê-lo, e, por mais que a secretária desse curva, ela era dura na queda. Bem, pensou antes de mandá-la entrar na imponente sala, todo mundo deve fazer uma boa ação de vez em quando. Talvez queira emprego. Então, vejamos. E quando ela entrou, aqueles olhos…

 – Não precisa ficar sem jeito, já falei. Mas o que quer dizer “intimidade” para você? E não me chame mais de senhor.

 O sorrio que ela abriu era fulgurante, o primeiro sol depois de seis meses de escuridão no Alasca.

 – São coisas simples, tipo você descrever o seu corpo como se não tivesse vestindo nenhuma roupa….

 Ele encolheu a barriga.

 -…e outros detalhes, se a sua pele é seca ou neutra, essas coisas. Se tem muito cabelo no peito, se transpira pouco ou muito.

 – Menina, você quer me ver suar de verdade? Mas fiquei curioso. E vou ser direto: por que não vamos direto a um motel para você examinar esse meu corpinho com jeito de 40? Aliás, qual é sua profissão, estuda, trabalha?

 O sol dos olhos ficou encoberto por uma nuvem de desapontamento.

 – Eu disse que você…o senhor me entendeu mal, eu avisei. Eu trabalho sim, sou vendedora de perfumes e preciso saber tudo sobre sua pele para a escolha certa, o Ph, se é gordurosa ou não. Não precisa ir a um motel, e depois que ouvi isso da sua boca…

 O homem murchou.

 – Desculpa, minha filha, mil desculpas. Eu tenho esse jeito errado de fazer graçolas, pelo amor de Deus, eu é que agora peço que você não me entenda mal. Desfaço o convite, ele nunca existiu, certo?

 Então a nuvem saiu da frente do sol.

 – …fiquei pensando: por que não ir a um motel com o tio? Ele até que é bonitão…

 O empresário sentiu uma dor no peito.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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