A viagem do sonho
Nos meus tempos de infância, veranear na praia era curtir duas fases maravilhosas. A primeira era a viagem até o Litoral, sonhando com os sonhos de Santo Antônio da Patrulha, enormes, gordurosos e deliciosos. A aventura – literalmente começava de madrugada. Nem dormíamos de tanta ansiedade. A largada era tipo 4h da madrugada.
Como Proust, sinto até hoje o cheiro de poeira com gasolina. Amontoados no banco de trás, com malas e sacos no teto do carro, a primeira fase ia até a balsa sobre o Rio Caí, depois de passar por Bom Princípio. A estrada de chão batido ia até a Vila Scharlau, onde se entrava na BR-116, na época BR2. O asfalto era mixuruca. Simplesmente espalhavam o asfalto quente até onde podiam.
Em São Leopoldo pegava-se a antiga “faixa” de cimento que levava a Sapucaia, e de lá para a hoje RS-030, a estrada antiga antes que surgisse a freeway. Construída nos anos 1940, a faixa de cimento durou até os anos 1990, quase sem obras de recuperação. Até hoje me pergunto por que mais rodovias não tinham esse piso.
Salivávamos apreciando a paisagem enquanto não pintava Santo Antônio da Patrulha, o reino encantado dos sonhos. Antes disso, as mães pediam para comprar pães em Glorinha. O resto da viagem já é outra história. Era a terceira fase, até chegar no ponto onde o cheiro da maresia toma conta das nossas papilas olfativas. A última conto depois.
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