A síndrome do tambor (1 de 2)

27 nov • A Vida como ela foiNenhum comentário em A síndrome do tambor (1 de 2)

Quando eu era estudante, boa parte dos meus amigos era de esquerda como eu. Na universidade, contavam-se nos dedos os que não eram revolucionários entre aspas, pelo menos de bar. A revolução era e é um nome sagrado, que excita quem a profere, de preferência “la revolución”. Nenhum mistério. Os cristãos se ouriçam quando ouvem “Jesus” e os pregadores da ausência do Estado, os ultraliberais, tem frenesi coletivo quando a palavra “mercado”. Jesus tem representação pictórico, “la revolución” tem várias, mas nenhuma funcionou tão bem quanto aquele santinho do Che Guevara olhando para os céus com ar romântico.

Precisamente essa é a compreensão dos jovens, é uma concepção romântica. Assim como aconteceu nos anos 1960 e 1970, para quem resolveu pegar em armas, o caráter romântico desaparecia ao fragor da batalha. Só os mais convertidos resistiam.

Assim como cães que que ficam animados em uma festa ou correm atrás dos carros – em absoluto quero dizer cão no sentido literal, é uma metáfora bem entendido – fogem com o rabo no meio das pernas quando estoura o primeiro foguete ou o motorista freia para ver qual é a do valente.

Tudo tem fase na vida, como se fôssemos larvas, depois pupas e finalmente borboletas, que começam a vida debaixo d’água e depois voam. A maior parte das larvas deixa a crença revolucionária tão logo consiga voar.

Um porcentual menor permanece sendo de esquerda. Os que assim são normalmente têm mais base teórica marxista e não apenas o barbudinho. Sabido é que a Santíssima Trindade é composta por Marx, Engels e Lenin. Pelo menos era assim. Depois substituíram o Espírito Santo por um ex-presidente.

(conclui amanhã)

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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