A síndrome do tambor (1 de 2)
Quando eu era estudante, boa parte dos meus amigos era de esquerda como eu. Na universidade, contavam-se nos dedos os que não eram revolucionários entre aspas, pelo menos de bar. A revolução era e é um nome sagrado, que excita quem a profere, de preferência “la revolución”. Nenhum mistério. Os cristãos se ouriçam quando ouvem “Jesus” e os pregadores da ausência do Estado, os ultraliberais, tem frenesi coletivo quando a palavra “mercado”. Jesus tem representação pictórico, “la revolución” tem várias, mas nenhuma funcionou tão bem quanto aquele santinho do Che Guevara olhando para os céus com ar romântico.
Precisamente essa é a compreensão dos jovens, é uma concepção romântica. Assim como aconteceu nos anos 1960 e 1970, para quem resolveu pegar em armas, o caráter romântico desaparecia ao fragor da batalha. Só os mais convertidos resistiam.
Assim como cães que que ficam animados em uma festa ou correm atrás dos carros – em absoluto quero dizer cão no sentido literal, é uma metáfora bem entendido – fogem com o rabo no meio das pernas quando estoura o primeiro foguete ou o motorista freia para ver qual é a do valente.
Tudo tem fase na vida, como se fôssemos larvas, depois pupas e finalmente borboletas, que começam a vida debaixo d’água e depois voam. A maior parte das larvas deixa a crença revolucionária tão logo consiga voar.
Um porcentual menor permanece sendo de esquerda. Os que assim são normalmente têm mais base teórica marxista e não apenas o barbudinho. Sabido é que a Santíssima Trindade é composta por Marx, Engels e Lenin. Pelo menos era assim. Depois substituíram o Espírito Santo por um ex-presidente.
(conclui amanhã)