A saída japonesa
Quem tem insônia ou dificuldades para dormir ouve rádio, lê, faz palavras cruzadas ou toma remédio. Tem gente que pega no sono com o monólogo da mulher deitada ao seu lado. Só exige um treinamento, o de dizer “hmm” de vez em quando. Isso é programável. Falando por mim, a TV é o maior sonífero que existe.
O problema é que, nesta minha profissão, você é treinado para ver e captar palavras-chave, que imediatamente te deixam esperto. Digamos que eu seja um ótimo cão treinado por Pavlov, ou como um dos tantos software de filtros de palavras-chave ou padrões de fluxo, e até da falta dele. Então, eu vivia acordando bem na hora que começa aquele estágio do soninho gostoso. Falei no tempo passado porque hoje nem durmo mais, desmaio.
Voltando à vaca fria. Logo que surgiu a TV por assinatura, e descontado programas que realmente eu gostava e gosto de ver, eu deixava a TV ligada no canal de notícias japonês NHK. É difícil entender qualquer coisa dos nipônicos, então aquele rosário de palavras monocórdicas e ininteligíveis me conduziam rapidamente para os braços de Morfeu. Até que um dia…
O meu software começou a ficar alerta até para japonês. Meu sono fluía sereno como as nuvens das Eternas Planícies dos índios norte-americanos quando uma palavra captada pelo meu sonar destruiu meu dormir, um som no meio de uma frase do âncora, umazinha só, mas bastou.
– …Brasil.
Desde aquele tempo não consigo mais dormir quando sintonizo no NHK. Como os computadores da NSA que buscam ações terroristas, em que até a ausência de fluxo os alerta que aí tem.