A quarta carta
No tempo em que a legislação eleitoral não era tão severa quanto à propaganda dos candidatos, fui almoçar em um restaurante do Shopping Total. Quando demandei o estacionamento, fui abordado por um terno puído com cabo eleitoral dentro dele, também ligeiramente puído pela lixa do tempo.
Ele veio com vários santinhos na mão e me ofereceu um. Obrigado, eu disse, já tenho candidato. Rápido, ele tirou outro santinho de outro candidato no bolso do paletó e me ofereceu. Obrigado, eu disse, já falei que tenho candidato. Em seguida ele veio com outro, um terceiro candidato. Obrigado, eu falei, quantas vezes tenho que dizer que já tenho candidato?
Simulando perplexidade, ele segurou os três santinhos na mão como se cartas de baralho fossem, e com a outra tirou a quarta opção com a outra mão. Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, ele inverteu os santinhos em direção ao seu rosto e passou a examiná-los detidamente. Para minha surpresam, pegou a quarta opção, jogou-a no chão e pisou em cima.
– Esse não. Esse daí é ladrão.
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