A prótese da traíra

28 jan • Sem categoriaNenhum comentário em A prótese da traíra

Capataz de estância no Alegrete, seu Pacheco era grande contador de causos, e os relatava com a mais absoluta cara de pau. Certa noite chuvosa, estávamos no galpão à beira do fogo e comendo peixe de rio frito. O menu abriu seu depósito de causos.

– O senhor sabe, há muitos anos, no tempo do Major Pedrinho, havia um açude no mato do fundo que dava muito peixe igual a esses que estamos comendo.

Lá vem, pensei. E veio.

– Um dia peguei o caniço, botei uma minhoca suculenta no anzol e lancei a linha. O doutor não vai acreditar, mas juro que é verdade! Na saída, peguei uma traíra de quase meio metro! E sabe da maior?

Respirou fundo.

– Quando tirei o anzol da boca dela, vi que ela tinha um pivô! Pivô igual ao que os dentista botam na gente. E sabe o que mais? Era de ouro! A la pucha seu, devolvi ela pro açude.

Me engasguei.

– E tem mais, doutor. Nem dois meis depois fui de novo ao açude, botei minhoca boa no anzol e em seguida uma traíra mordeu a isca. Quando tirei o facão pra matar a danada, ela abriu um bocão.

– Seu Pacheco, por favor não me mate! Eu sou a dentista da outra!

Tinha parado de chover, e nem me dei conta. Fui dormir. Sono sem pesadelos de traíra com pivô de ouro, se querem saber.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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