A onda pornô

8 mar • A Vida como ela foiNenhum comentário em A onda pornô

O cinema brasileiro saiu das chanchadas dos anos 1950  e foi para as pornochanchadas dos anos 1970. Os filmes pornô começaram a ser exibidos no circuito comercial, maioria produções baratas de fundo de quintal. Nos anos 1980, o filme Calígula atraiu multidões de casais bem casados. Tinha pretensões de ser filme cult retratando a vida do sádico imperador romano.

Só que houve briga interna, mudança de diretor e acabou sendo um grande e caro filme de sacanagem, na terminologia da época. Calígula foi exibido no cine Capitólio, e alguns gaiatos se postavam na bilheteria para identificar nomes conhecidos da alta sociedade porto-alegrense. Fato é que aos poucos o cinema pornô deixou de ser novidade e ninguém mais se envergonhava em ser visto nas filas. Algum tempo depois surgiu o Império dos Sentidos, campeão de bilheteria.

Apesar da fama, não era pornô, muito pelo contrário. Tratava-se de um drama pungente, uma tragédia greco-japonesa, com cenas terríveis de se ver. Ocorre que a fama de ser pornô infelizmente se espalhou. Só se falava no Império dos Sentidos. Evidentemente, boa parte, talvez a maior parte dos espectadores se decepcionou. A fama se espalhou tão rápido que pacatos casais de cidades do interior chegaram a fretar ônibus só para ver o filme “pornô” e voltar em seguida.

Uma dessas excursões veio de cidade da Serra Gaúcha. Em aqui chegando, início da noite, os passageiros, pacatos casais maduros, notaram que o motorista não era muito manso das ruas de Porto Alegre. Sem querer pagar mico, o motora fingiu que sabia o que estava fazendo. Que nada. Com um papel de pão onde escreveu o endereço do cinema, ficou dando voltinhas e mais voltinhas, para a inquietação da turma, temendo perder a sessão. De repente, o ônibus parou. O motorista saiu, deu uma boa olhada no luminoso do prédio que parecia ser de um cinema, voltou e abriu um sorriso triunfante de 180 graus.

– Pessoal, é aqui! Tá no luminoso, Império dos Sentidos. Vão saindo que vou estacionar por aqui perto.

Jubilosos,  os casais saíram do carro e esperaram o motorista para combinar a volta logo após a sessão. Então rumaram excitados ao alvo. Murcharam.

No luminoso estava escrito Empório dos Tecidos.

www.brde.com.br

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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