A morte pela cura
Quando eu era menino, o temor dos médicos se resumia à varíola, essa, sim, uma assassina, sarampo e tuberculose. Havia ainda a escarlatina, doença que deixava você com cor de vestido de cardeal em dia de missa dominical.
Que eu lembre só essas. Também havia a coqueluche. que causava tosse ininterrupta nas crianças. Como não havia vacina e medicamento específico, o remédio era respeitar. Só que não contavam com a astúcia da FAB.
O micro-organismo responsável pela tosse era muito sensível à altitude e variação brusca dela. Então nossa querida Força Aérea Brasileira lotava aviões com crianças e subia até 3 mil metros.
A maioria ficava curada. O problema é que havia muita criança e pouco avião. Perdi minha chance de voar de graça, ainda mais que morava a 100km de Porto Alegre.
Um detalhe final. Olhem nos braços dos idosos, quase todos têm cicatrizes da vacina. Não se aplicavam injeções. As enfermeiras raspavam a pele com um pequeno frasco aberto numa extremidade. A borda áspera de vidro facilitava a penetração na pele. Coçava pra caramba e infeccionava, às vezes, seriamente. Dá para dizer que quase se morria da cura.