A fartura que sumiu
Mais uma colega deixou o Jornal do Comércio. Com os jornais impressos com receita publicitária cada vez menor, sem surpresa. Contrasta com o final dos anos 1960 e anos 1970, quando Porto Alegre tinha seis jornais diários. Em 1968, quando adentrei uma redação pela primeira vez, tínhamos o Correio do Povo, a Folha Esportiva (depois Folha da Manhã), a Folha da Tarde, Zero Hora, Jornal do Comércio, Diário de Notícias e o Jornal do Dia. Tínhamos até o lixo de uma edição que chegava às bancas por volta do meio-dia e, anos depois, uma segunda edição vespertina.
Comparar a estrutura oferecida pelas empresas naqueles anos com a de hoje é covardia. Quando estava na Folha da Manhã, certa tarde, o editor-chefe perguntou se eu podia ver do alto como estava a situação em Pelotas. Em pleno escoamento da safra de soja, a ponte estava com problemas estruturais e fora interditada. A fila de caminhões se estendia por dezenas de quilômetros. OK, disse eu. Ato contínuo, ele acionou a empresa de táxi aéreo Tasul e lá me fui eu com fotógrafo a bordo de um bimotor Piper Navajo. Avião. Táxi aéreo. Só para ver e fotografar do alto.
Claro que nem todos os jornais se permitiam esses luxos, mas perto de hoje é como comparar um restaurante cinco estrelas com um bufê do Fome Zero.
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