A fantasma
Na minha infância, em São Vendelino, morávamos ao lado do Cemitério Luterano. Então, eu tinha intimidade com os mortos, desde que eles não saíssem a passear, especialmente de noite. Como todo piá, considerando-se que à noite todos os gatos são pardos, quando eu ia para a casa do meu tio – que ficava no lado aposto -, prudentemente cobria a parte do rosto que dava para o cemitério, com uma fileira de ciprestes centenários.
Certa vez, a prima Iara veio para pousar alguns dias conosco. Como toda citadina, assustava-se com os fantasmas do campo. Em uma madrugada, acordamos com seus gritos. Ela estava vendo um fantasma no maior mausoléu do campo santo, que ficava bem no meio da área. Corri para ver e, de antemão, engatilhei uma gargalhada. Parei antes. Realmente, havia um vulto branco em cima do túmulo.
Para encurtar o causo, era um vaca leiteira fugitiva do seu Inácio “Notz” Schneider. Nunca vi fantasma dar leite.