A falta que ele faz
Nascido em 1897 na Alemanha, meu pai Franz Josef Albrecht ou Francisco José na tradução brasileira lutou a bordo de um navio caça-minas da Marinha Imperial da Alemanha entre 1916 e 1918. Por bravura em combate, recebeu a Cruz de Ferro, uma alta condecoração conferida pelo Kaiser Guilherme. Findo o conflito, em 1919, a Alemanha estava arrasada, humilhada, e passava fome. Em janeiro de 1920, o pai veio para o Brasil e deu com os costados no Vale do Caí, onde casou com Felicitar Avelina Selbach, minha mãe, neta de alemães.
Meu amado pai faleceu em 1978, em Montenegro. Conversamos sobre aqueles tempos, mas não o suficiente. Pai a gente descobre depois de velho. Uma das coisas que lembro com nitidez foi algo que falou em uma dessas crises tão brasileiras.
– Os brasileiros usam a palavra crise sem saber realmente o que é. Crise é comer carne de cavalo morto nas ruas, crise é ferver solado de botina por horas para extrair alguns gramas de proteína. Isso sim é crise.
Pois é, pai. Nem imagino o que passaste naqueles tempos sombrios. Depois veio a II Guerra Mundial. E, poucos anos depois, o país se reergueu, graças aos teimosos e eficientes alemães.
Que legal. O meu bisavô Julius Albrecht veio antes, 1865, quando ainda era Prússia. Se radicou em São Lourenço do Sul, de onde, anos depois, partiu para desbravar Carazinho. Obrigado pelo ensinamento quanto à “descoberta do pai”. Eu hoje tenho 50, mas já há tempos procuro conviver o máximo que posso com meu pai. Abraço.