A falta do retrovisor
As editorias de Economia tal como a conhecemos hoje surgiram na segunda metade dos anos 1960 em virtude da retração do noticiário político, vocês sabem. A autocensura ou a censura propriamente dita em grandes jornais se deu para valer mesmo depois de 1968. O noticiário econômico até então era disperso ou agrupado informalmente, não havia fronteiras definidas como hoje. Já comentei isso, mas volto ao assunto pelo que está acontecendo hoje.
A pergunta é se parte da explicação de menor leitura dos jornais também não se deve ao simples fato de o conteúdo oferecido interessar mais às redações do que aos leitores. Por exemplo, o leitor comum se interessa mesmo pela repetição quase que diária da dívida pública, do déficit fiscal e outros totens basilares do dia a dia. Não pergunto, respondo: não. Então chegamos ao ponto crucial: não estamos CONTANDO a economia em linguagem comum, e, além disso, mesmo o mais árido tema econômico se presta a ser contado como uma história. E nós jornalistas desaprendemos a contar histórias.
Quando a antiga Caldas Júnior deu os doces e a notícia que o veterano Correio do Povo parou as máquinas, estava eu em um almoço no Plaza São Rafael quando a coisa estourou como uma bomba. Eu fazia o Informe Especial da Zero Hora na época, anos 1980. Sentado ao meu lado, o pecuarista Armandinho Garcia de Garcia queria confirmar o infausto acontecimento. Disse a ele que sim.
– Isso é muito ruim. É como não ter retrovisor.
O Armandinho matou a pau. Hoje, ou só nos espelhamos nas regras editoriais dos grandes e não ousamos mais, não inovamos mais, seguimos a procissão como em transe hipnótico. Falta alguém para dizer que o rei está nu.