A escada impossível (final)
O dono da Gauchinha chamava-se Johan Passberg, também proprietário do Restaurante João, na rua Arabutã, travessa da avenida Farrapos – especialidade: pato. Seu Johann foi o primeiro terceirizado para fornecimento de comida nas empresas aéreas, começando pela Cruzeiro do Sul. Ele ficava sentado num tamborete alto junto ao balcão, e repetia que sua diversão era ver fregueses conversando.
O que a Gauchinha tinha de mortal era a escada de ferro em espiral do térreo até a sobreloja. Rapaz, era inacreditável. Estreitíssima, apertadíssima, degraus pequenos, um pesadelo para subir. Imagina para descer. E pensa em descer depois de meia dúzia de chopes. Aquilo era uma obra de engenharia projetada por algum sádico especializado em atormentar o ser humano, embora a arquitetura do prédio não permitisse opções.
Certa vez, perguntei ao garçom Luiz como podia um bar ter uma escada de acesso assim.
– O pessoal se acostuma. Até hoje ninguém ficou entalado nela. Ficou?