A era da raiva
Escrevi esse texto há oito anos. Tirando os fatos pontuais referidos, hoje está pior:
Temos vivido tempos conturbados no Rio Grande do Sul. A poeira ainda não baixou da tragédia de Santa Maria. Então, para se fazer uma análise mais serena, é preciso dar tempo ao tempo. Entendam bem, compartilho a indignação e a dor das famílias, mas a sociedade gaúcha como um todo mostrou facetas preocupantes. Somos um Estado de linchadores, em que a serenidade é avis rara.
Também não dá para aguentar a exploração política em torno da tragédia, assim como é brabo aguentar o ritual de tirar o corpo fora das responsabilidades. A questão é que aqui não existe meio termo. É tudo oito ou 80. Vivemos falando que deveríamos deixar para trás o tradicional espírito beligerante, mas constatamos que, em vez de melhorar, as coisas parecem estar piorando. No episódio das árvores cortadas no Gasômetro para dar curso às obras, vi-me em plena Inquisição.
O caso é que ideologizaram tudo. Conseguiram isso até com sacolas de supermercado, as de plástico são de “direita” e as ecobags são de “esquerda”.
Temos carradas de exemplos enraivecidos no dia a dia. É só olhar o comportamento no trânsito, por exemplo. Ou discussões por bobagens na mídia, ninguém aceita o contrário. Somos fundamentalistas, crê ou morre. Depois falamos mal do radicalismo do Oriente Médio. Só nos faltam as AK-47 e os homens-bomba…